Havia tanto tempo, tanto que pensava já ter esquecido o tempo em que amava o meu amante, tanto que deixaste de me entrar na cabeça e nos sonhos e comecei a ter sonhos plausíveis de serem realidade, tanto que já não sentia nada, nem amor, nem ódio, sentia com lucidez e sem remorso.
Havia tanto tempo que deixei de ter saudades, deixei de me afundar, pisei chão seguro e segui em linha recta, deixei ilusões e desilusões para trás, havia tanto tempo que me sentia feliz outra vez.
Havia tanto tempo e um vislumbre de ti atirou-me para trás no tempo, não foi saudade o que senti, nem sei o que foi, só sei que me entrou no corpo e na cabeça, foi um formigueiro, um devaneio, vontade de gritar, sussurrar o quanto te odeio, um assomo do que fui enquanto fui de ti.
E tu ali a olhar, tremeste, trespassaste-me e nem hesitaste, sei bem que quiseste mendigar o meu afecto, pegar-me na mão, dar-me um safanão mas não para me acordar, somente para fazer mossa, para agudizar a dor que havia tanto tempo deixei de sentir. Guardo-te igual, cheio de amor doentio mas cobarde e não se ama a medo, sei que se cair tu não voltas atrás para me levantar, assim, fiz que não te vi para não me lembrar de ti, nem desta dor que por momentos voltou e havia tanto tempo que o tempo enterrou...