segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Quatro palavras

Quatro palavras, foi quanto bastou. Quatro palavras, foi o que restou. Um momento, quatro palavras. A repulsa que sinto que sentes de mim, em quatro palavras. Quatro palavras que não consigo ultrapassar, quatro palavras que roubaram o pouco que ainda restava em mim. Sinto vergonha dessas quatro palavras, não por mim, sinto vergonha de ti e do ser em que te tornaste. Humilhaste-me com quatro palavras, vê o quanto dizem de ti. Quatro palavras que dizem tudo de ti. Quatro palavras que não perdoo.

Nem me sinto perder, quatro palavras que me dizem que não estou a perder nada. Não vou deixar de existir, quatro palavras que me dizem que vou resistir. Quatro palavras que me indicam o caminho. Quatro palavras que me mostram que só tenho de me amar na mesma proporção do meu amor por ti. Perdido por ti, por quatro palavras. Quatro palavras que não apago da minha memória, que me partiram por dentro. Quatro palavras que me mataram, quatro palavras que atiro ao vento, fica com elas, assentam-te bem e eu não as quero para mim. Não ser feliz adoece, encontrei a cura, em quatro palavras. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Glass

Constato que tenho saudades da solidão, do tempo em que era mais feliz sozinha e me sentia preenchida. Desconheço e detesto o amargo em que te tornaste, não sei se me culpo por tantas vezes dividir contigo pensamentos, esperando avidamente um qualquer retorno, o que fosse desde que não fosse o habitual silêncio. Não sei se pela insistência ou se por circunstâncias mal curadas da vida, jorras amiúde razões, quase sempre mal formadas onde antes só habitavam pensamentos desirmanados ou um total vazio, desorientas-me os sentidos, replico agora com silêncio em jeito de desafio.
Feita está a cama, lençóis enrolados, nela terei de me deitar e permanecer enquanto não encontrar a resposta que te cale de vez ou te amanse o coração. Nem sei porque a fiz, o sono ou a ausência dele não me matava, morria de sede mas não de sono. Bebera eu um copo de água e tivesse permanecido no silêncio que me aquietava, agora não estaria a despoletar uma tempestade. Sou o copo.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Fuck you

O que vai ser de nós quando nos abandonarmos de novo? Tu definharás durante meses naquele teu abrigo, perderás a cor, o sal, a vida mas retornarás mais arrogante assim que desistires de ter pena de ti mesmo. Voltarás mais são, sem nada a perder, disposto a perder tudo. Eu serei forte e resoluta mas todas as cicatrizes que tenho arder-me-ão ainda mais intensamente, não mais do que a dor que me assola agora.
E deles, o que será? Quando perceberem que os silêncios não eram sinal de paz, que estou demasiado desiludida para discutir, que os sorrisos são partilhados a três e que mais uma vez desisti, que nem por eles continuo este jogo onde acabo sempre a perder.
 
Fui tomada de inércia, não me apetece lutar por alguém que se tornou metade do que era e da metade que ficou só vislumbro as coisas de que nunca gostei mas que esmiuçadas no resto quase passavam imperceptíveis. Fiquei com a parte que não conta, a outra onde és doce, cúmplice, altruísta fica fechada do lado errado da porta.
Talvez um dia sinta falta desta solidão, desta tristeza, os silêncios por vezes podem ser alimento mas hoje não, por hoje chega, não me tenho assim tão pouca.

terça-feira, 15 de março de 2016

Time lapse

Ontem jogámos Uno a quatro, apesar de doente o pequenito estava feliz, eu também. Ontem jogámos Uno com as regras todas, desregrados no sofá com uma manta no colo e um livro a fazer de tabuleiro. Ontem fomos uno, partilhámos gargalhadas e roubei propositadamente  tempo ao tempo de dormir.
Hoje passou na rádio uma música de um tempo que não me queria lembrar, sem querer rebusquei memórias tiranas e percebi que estou demasiado perto dessas memórias de novo. Hoje jogamos Uno de novo, espero.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Regrets?

Fiquei com os pés no chão, desci das nuvens e fiquei com os pés no chão. Partilhei todas as palavras e foste construindo chão. Fiquei com os pés no chão. Entreguei-te os pensamentos quase sem notar e acrescentaste mosaicos. Fiquei com os pés no chão. Pediste-me o corpo, não o quis entregar, suplicaste, juraste juras e mais juras, aumentaste o caminho e fiquei com os pés no chão. 
Deitei-me no chão. Assumiste que seria assim para sempre, pediste-me que assim fosse, eu era o céu, tu o meu chão. Acertámos pele com pele, olhos nos olhos e ficámos com os pés no chão.
Desprezámos regras, gozámos o amor na perfeição, fizemos dele amor-perfeito. 
Tiveste medo. Tiraste-me o tapete, fugiu-me o chão, segui caminho, tiveste medo. Quiseste voltar mas fiquei com os pés no chão, fui cruel, sacudi-te o cheiro, ficou-te o amor, ficará para sempre que o sei, que o disseste mas eu, tenho os pés no chão. As razões em que te abandonaste, consomem-te agora, nunca terás chão, segui caminho, subi às nuvens mas fiquei com os pés no chão.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Lost it

Consta-me que já não me amas. Não foi um passarinho que me disse, não foi uma língua afiada. São devaneios da minha mente, mais assertiva do que parece. Abandonas-me de corpo presente e alma ausente, quem fui para ti é passado se agora sou apenas embaraço ou constrangimento. Não te vou amar mais se o que sinto é desamor, um amor que se vai devagar, lentamente, que se escorre, que se vai cheio de pena e de penas. Pois não penarei mais, inspiro e bato em retirada, daqui não levo mais  nada, saio amena e resignada, doutros amores me valho para consolar esta alma destroçada.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Inner monster

Basta olhar-te mesmo quando te foge o olhar, peço-te que me olhes nos olhos tantas vezes e tu consegues. Basta olhar-te, peço-te os olhos que me afastam os monstros, são os teus olhos que me afastam os monstros. Basta olhar-te, afasto os teus monstros, desaparece o frio que me usurpa o estômago e rimos os dois. Basta um olhar e rimos até chorar, até doer a barriga e só com um olhar. 
A minha vida por esses olhos, é neles que me resgato.